Antichrist
19/11/2009
Lars Von Trier tem originalidade e autoria, num momento em que a quantidade de fitas produzidas se multiplica é difícil que a qualidade acompanhe. Houve uma época em que o roteiro tinha o peso da minha preferência pessoal, mas depois de alguns anos e muitos filmes, uma maneira refrescante e ousada de se contar uma estória é o que tem me deleitado acima de outros critérios cinematográficos. E neste momento eu vibro arrepiada e absorta com “O Anticristo“, em que muito se falou de cenas chocantes e gratuitas de sexo e violência desde sua apresentaçao em Cannes este ano. Sim, o longa tem cenas fortes e intensas, porém gratuidade nao houve, o oposto, sublimam em força, beleza e verve. Em 6 segmentos, “Antichrist“(2009) nao deixa uma pausa para respirar, é maravilhamento ou perplexidade.
O Prólogo, momento que antecede a morte do filho dos protagonistas, é certamente uma das coisas mais belas que já vi, uma obra de arte. Os quatro capítulos posteriores seguem uma estética distinta: Grief, Pain (Chaos Reigns), Despair (Gynocide) e The Three Beggars contam o marido psicanalista trabalhando para curar o desesperador luto da esposa a partir seu retorno para casa depois de semanas a fio sedada em um hospital, diferentes e melindrosas abordagens psicanaliticas sao descritas de forma poética, histérica e desconcertante e atingem o auge no momento em que o casal liberta a oculta e sinistra psique da personagem de Charlotte Gainsbourg. Willem Dafoe a acompanha em sua densa e insigne interpretaçao, e deixa sobreviente o Éden no delicado e redentor Epílogo.
Os diferentes recursos técnicos e estéticos tao pouco podem ser reduzidos ao experimental, sao eles que integram em sinestesia e profundidade a obscuridade do instintivo e do psicológico humano: a ansiedade, a culpa, o niilismo, a mitologia, a fecundidade, a perda, a libido, a sobrevivência, a tortura, a tragédia intrínseca da natureza. Arrebatador.
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One Comment
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É realmente incrível!Para mim um de seus melhores filmes, e um dos mais maduros também!